Património
Jovens Artistas Unidos é um projeto nascido em 2015 que une, desde então, jovens de várias idades para “fazer teatro”. Este coletivo com origem em Oliveira do Bairro, pretende fomentar a criação artística local e, através do teatro, possibilitar a interação comunitária, habitando lugares e albergando pessoas. Pretende ser um espaço de encontro e pensamento, no qual os jovens se podem reunir para pensar, criar e expressar.
Os JAU não possuem uma sala de espetáculos fixa, nem sequer uma sala de ensaios. Vão sendo albergados por associações e usam os seus espaços. São uma espécie de movimento cultural que se insere na sociedade, tomando todas as pessoas como espetadores e participantes dos seus projetos, ocupando os seus espaços, usando a sua linguagem e debatendo os seus assuntos. A sua índole comunitária vem permitindo açambarcar em cada espetáculo não só os elementos fixos mas toda a comunidade interessada em fazer e ver teatro, tornando-se um procurar constante de partilha e inclusão.
Em Seis anos de existência, o projecto albergou já mais de meia centena de jovens no global das suas produções. Tais jovens assumemse, no tempo em que vivemos, pela sua resistência. Fazer teatro e criar cultura nos tempos que correm é um ato coragem, que nos pode definir como melhores pessoas no futuro. A educação de um público, dos seus intervenientes mas também a intervenção crítica e participada de cada um destes artistas fazem do projeto, em si próprio, uma atitude de canto e luta. Em cada atividade que desenvolve o movimento cresce e
ganha força; pretende continuar este seu trabalho cívico e educativo partilhando a essência da sua identidade e a intenção das suas reivindicações e mensagens.
O projeto conta no seu curto histórico com quase uma dezena de atividades das quais, o espectáculo "Para M. Poesia de Ruy Belo" apresentado em 2015, no Quartel das Artes no âmbito da Festa da Juventude, organizado pela Câmara Municipal de Oliveira do Bairro (CMOB); "Este Tempo todo" apresentado em 2016, também no âmbito da Festa da juventude, CMOB, onde contámos com a participação dos jovens com necessidades especiais ou doença mental da resposta Lar Residencial do Centro Social de Oiã (CSO); "Conto de Natal" em dezembro de 2016, nas festas de Natal do CSO; apresentámos a "Poesia de Armor Pires Mota" no Âmbito do Oiã tem talento; em 2017 participámos no espectáculo "Este Baile entre a paisagem", um projeto com 50 participantes no palco do Quartel das Artes, integrado no MOB 2017; ainda "Poesia de Almada" no Âmbito da conferência "cultura e educação" organizada pela plataforma Oliveira nas tuas mãos; em setembro apresentámos, em parceria com a PROMOB, a peça "Carta a Nunes Alferes ou para ser lida Amanhã"; também nesse ano fizemos parte da apresentação comunitária "Um Poema de Natal" organizado pela CMOB e exposto em todas as freguesias do concelho; Em 2018 apresentámos no Quartel das Artes a peça "Que as pedras choram..." para mais de 400 pessoas, resultado de uma parceria com a PROMOB; 2019 foi o ano de "Proponho a Revolução" o trabalho de criação coletiva e experimentação que resultou e está apresentado numa Tese Académica (FLUC) que usou os JAU com objeto de estudo, este trabalho foi a palco em Novembro no Quartel das Artes, e teve a produção da PROMOB, com o apoio do Instituto de Educação e cidadania da Mamarrosa, do Orfeão de Bustos e da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Este tem sido o trabalho do nosso coletivo o de propor a arte, nomeadamente o teatro, como modo e meio de encontro entre as pessoas, cativando nos jovens o gosto pela partilha e pela criação.
"Portugal, tão cansado de morrer
ininterruptamente e devagar
Enquanto o vento vivo vem do mar"
Sophia de Mello Breyner
O fado como canto, voz viva não de um choro, não de um ai, antes de um grito. antes de uma casa aberto, de uma janela pró mar voltada, de um amor por todas as coisas de todas as maneiras. antes um grito. Antes um canto e poema, antes as tuas mãos estendidas sobre o meu rosto, antes vivo que morto.
Portugal que tanto matou por ver amar, tantos amores, antes no passado como hoje, este velho delacerador de paixões, essa prematura morte premeditada, esse triste destino o meu, o nosso dos portugueses. Antes de ti Portugal, antes do teu choro, do teu lamento, antes que parta como tantos noutras naus, antes um grito, antes um canto, um poema.
Escolhi aqui permanecer, onde a visão é dura e mais difícil, aqui nos dias felizes de um país esquecido de existir, de uma terra como paisagem, cada vez mais pequena. Dizei-me onde caberá um homem da minha idade, novo como eu, numa terra de velhos comedores da pão e bacalhau, camisas manchadas de vinho, ancestrais figuras do café central, construtores desse tratado político inacessível à compreensão geral, dos mais altos semblantes deste Estado, dizei-me onde caberá um homem acabado de nascer, morto de amores. Por que em Portugal, se for por Amor, só se for morto.
Não cantes mais Inês que ninguém ouve, pois não te pedem canto mas paciência, neste país que tu chamaste e não responde, País que tu nomeias e não nasce. Se alguma vez viveste por amor, Inês, lá por amor tiveste que morrer. Mas ninguém chora já tua morte, só as pedras, e nós velhos amantes novos homens, por ti Inês, não um choro, antes um grito. Nós aqui, neste lugar de dor e incerteza, juntos neste palco gritamos que o amor antes de tudo. As nossas vozes juntas como um fado unirmo-nos aqui, neste palco, neste tempo.
Deste teatro feito vida, deste poemas canto, deste choro grito, como resistência, nós resistentes acabados de nascer, aos berros, aos gritos. nós contra o tempo em que vivemos, eternos amantes uns dos outros, somos a promessa do vento marítimo, de um dia claro e puro, de um amor para sempre.
nós, Jovens Artistas Unidos.